Assim como Dino Zoff anunciou a sua demissão logo depois do revés na final da UEFA Euro 2000, Cesare Prandelli deixou o comando da Itália assim que se confirmou a eliminação do país na fase de grupos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™, com a derrota por 1 a 0 diante do Uruguai em Natal. "Quando o projeto técnico falha, precisamos assumir as nossas responsabilidades", comentou o treinador. Um duro golpe que talvez tenha sido apenas a gota d'água que faz transbordar o copo.
Íntegro, exigente e fiel a uma imagem própria do futebol, Prandelli sempre se mostrou rígido em matéria de disciplina, a ponto de ter implementado um código de ética, e não suporta injustiça. Desde que assumiu o cargo, no dia 30 de maio de 2010, com a seleção italiana mergulhada em crise, ele se transformou em unanimidade junto a dirigentes, atletas e torcedores, que viam nele o homem da renovação. A sua marca, para além da final da Euro 2012 e da boa campanha na Copa das Confederações da FIFA 2013, foi ter virado a página do catenaccio sempre tão associado à Azzurra.
O seu apoio incondicional ao explosivo Mario Balotelli suscitou inúmeras discussões, conforme os excessos ou as façanhas do pupilo. Contra ventos e marés, Prandelli sempre assumiu a sua escolha. "Diante de um talento como ele é preciso simplesmente ter paciência", afirmou certa vez. "Depois chega uma hora em que o talento precisa assumir as suas responsabilidades." Apesar do gol que fez contra a Inglaterra, Super Mario acabou não rendendo o esperado nessa Copa do Mundo, sobretudo ao não colaborar tanto no trabalho defensivo.
Responsabilidade assumida
O capitão Gianluigi Buffon, antes mesmo do anúncio da demissão de Prandelli, saiu em defesa de alguns de seus companheiros mais experientes, que eram questionados na preparação para o Brasil 2014. "Com frequência ouvimos que é preciso fazer mudanças, que Buffon, Pirlo, De Rossi, Chiellini e Barzagli estão velhos, mas a verdade é que quando é preciso assumir a responsabilidade, são esses velhos que estão na primeira fila", observou. "É necessário respeitá-los um pouco mais, não pelo que foram, mas pelo que ainda representam."
Mas nem mesmo a combinação dos veteranos com atletas mais jovens conseguiu evitar o pior no grupo da morte. Depois do 1 a 0 sofrido contra a Costa Rica, uma derrota na qual a Itália pareceu cansada e abatida pelos esforços feitos no jogo de estreia, Prandelli manteve a sua linha de conduta e acrescentou um atacante, Ciro Immobile, em vez de substituir o impossibilitado Daniele de Rossi por um outro volante. 
Sem nunca terem atuado juntos, Balotelli e Immobile jamais se encontraram no Estádio das Dunas. "Não tivemos nenhuma chance, provavelmente porque somos tecnicamente limitados ou não estávamos bem estruturados", explica Prandelli. "O erro é meu. O projeto técnico não funcionou e, portanto, assumo toda a responsabilidade por ele."
Erro que um lance de genialidade de Balotelli poderia ter consertado imediatamente. Decepcionado com o atacante, a quem substituiu no intervalo, consciente de que uma opção tática menos hesitante poderia ter mudado tudo, irritado com os comentários sobre o seu contrato, que havia renovado até 2016 pouco antes do Mundial, e sentindo que seria o centro de todas as críticas e polêmicas, Prandelli preferiu virar a página ele mesmo. Fiel a seus princípios.