Se você é argentino, nasceu no final dos anos 1980, integra a seleção e joga na defesa, pode ter uma certeza: nunca estará nas manchetes. Essas estão reservadas a Lionel Messi, exímio colecionador de gols, atuações espetaculares e troféus de Craque do Jogo. Não foi diferente nesta quarta-feira, contra a Nigéria, pela última rodada do Grupo F. Mas houve uma pequena novidade em Porto Alegre: o gol da vitória teve a assinatura de... Marcos Rojo.
Nada de Messi, Gonzalo Higuaín, Sergio Agüero ou Ángel di María. O herói do dia foi um lateral-esquerdo que, em 24 jogos pela Albiceleste, só aparecia por roubadas de bola e o trabalho nas sombras. "Um gol, meu primeiro na seleção, em uma Copa do Mundo e, ainda por cima, para dar a vitória à seleção. Não poderia ter sonhado melhor." Essas foram as primeiras palavras do discreto "artilheiro" na entrevista ao FIFA.com, enquanto Messi concentrava os holofotes de emissoras do mundo inteiro. "Não dá nem para pedir mais, ainda que o gol não tenha sido muito bonito", acrescentou Rojo em referência ao seu toque de joelho após uma cobrança de escanteio.
Os livros de história não dão a mínima importância para a estética. Eles só registram o resultado. E no capítulo dedicado à Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, ficará gravado que o gol de Rojo saiu logo após o empate da Nigéria em 2 a 2, no início do segundo tempo, garantindo a primeira colocação do grupo aos argentinos. "Hoje estivemos muito mais inspirados no ataque", destacou o lateral do Sporting de Portugal em comparação com as vitórias pouco convincentes diante da Bósnia e Herzegovina (2 a 1) e do Irã (1 a 0), ambas conquistadas graças a Messi. "Nossos jogadores ofensivos deixaram o duelo mais fácil ao marcarem rapidamente. Sempre ficamos mais tranquilos quando estamos à frente no placar."
Espectador privilegiado
O plural em "jogadores ofensivos" foi generosidade de Rojo, já que os dois primeiros gols da Argentina foram marcados pela "Pulga". Mas é preciso reconhecer também que ele contou com a luxuosa ajuda de Di María, Higuaín e Ezequiel Lavezzi (substituto do lesionado Agüero), que tiveram atuações mais expressivas do que nas duas primeiras rodadas. "A razão dessa melhora é que hoje tivemos mais espaços, porque a Nigéria jogou para frente, em busca da vitória", analisou o ex-jogador do Estudiantes e do Spartak de Moscou. "Isso naturalmente deixou a partida mais aberta. E sabíamos que, se tivéssemos mais espaço do que nos dois outros jogos, teríamos mais oportunidades de marcar."
Com seis gols anotados em três confrontos, a Argentina garantiu a primeira posição da chave e uma vaga nas oitavas de final contra o segundo colocado do Grupo E, que tem França, Suíça, Equador ou Honduras. "Agora começa uma outra competição", advertiu o lateral. "Não há mais margem para erro. Ou você ganha, ou volta para casa. Para mim, é a melhor parte do torneio."
Evidentemente, quando se tem um tetracampeão da Bola de Ouro FIFA no elenco, é possível sonhar ainda mais alto. "É um deleite vê-lo jogar desde lá da defesa", admitiu Rojo, enquanto Messi passava diante dos jornalistas com seu troféu de Craque do Jogo debaixo do braço.
Hora de Rojo sair de cena discretamente. Afinal, ele é argentino, nasceu no final dos anos 1980, joga na defesa...