Dois homens, diferentes personalidades, mas tantas coisas em comum. De um lado, Joachim Löw se destaca pela sua racionalidade e pela meticulosidade nos planejamentos. Do outro, Jürgen Klinsmann é capaz de mover montanhas com o seu entusiasmo e o seu ímpeto. Houve tempos em que os dois formavam uma dupla perfeita. Ainda hoje, eles são considerados os mentores do novo e espetacular estilo ofensivo do selecionado germânico. E era uma cena comum vê-los se abraçando ao comemorar gols e vitórias durante a revigorante campanha alemã na Copa do Mundo da FIFA 2006 disputada no seu próprio país. Mas nesta quinta-feira tudo isso será totalmente esquecido durante 90 minutos. 
Quando for dado o pontapé inicial da partida entre Alemanha e EUA, em Recife, pela última rodada do Grupo G da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, Klinsi e Jogi, como são carinhosamente conhecidos no seu país, estarão em lados opostos. O ex-jogador e ex-treinador da seleção alemã é hoje o técnico da seleção americana. E o seu antigo assistente há muito tempo é o comandante da Nationalelf. "Somos bons amigos, mas ele está fazendo o trabalho dele e eu estou fazendo o meu", afirmou Klinsmann, deixando claro que o momento é de deixar as amizades de lado. "Agora não é hora para telefonemas entre amigos. Agora é hora de negócios!"
Sob pressão, mas confiante
Neste Mundial, já tivemos um confronto entre dois meios-irmãos. E possivelmente veremos outros treinadores enfrentando os seus próprios países. Mas o duelo entre os dois alemães será muito especial em vários sentidos. A tensão acumulada chegará a um ponto extremo para Klinsmann. Por um lado, o treinador, que mora na Califórnia há 16 anos, corre o risco de ver mais uma vez uma equipe formada por ele fracassar no momento decisivo. Por outro, o seu sucesso será enorme caso a seleção americana consiga um triunfo contra a Alemanha, considerada uma das favoritas ao título mundial, e com isso prove definitivamente que tem condições de competir de igual para igual com os melhores do planeta.
É indiscutível o fato de que poucas vezes vimos a seleção americana tão confiante quanto ela vem se apresentando no Brasil 2014. "Viajaremos para o Recife com a ambição e a confiança para derrotar a Alemanha", afirmou Klinsmann com uma atitude que certamente desperta muitas boas memórias nos seus compatriotas. No seu caso, declarações como essa não são motivadas por arrogância ou irreverência, mas puramente pela vontade de Klinsmann de acreditar em um objetivo e fazer de tudo para alcançá-lo. Depois da vitória por 2 a 1 na estreia contra Gana e do empate por 2 a 2 contra Portugal, quando os três pontos escaparam das suas mãos nos últimos segundos da partida, o treinador com certeza tem bons motivos para estar confiante.
Na concentração alemã, todos conhecem o novo potencial do selecionado americano. "Os americanos passaram por um avanço notável nos últimos anos, graças também a Jürgen Klinsmann", afirmou Löw. Pela situação do grupo, a derrota poderia ter consequências trágicas tanto para a Alemanha quanto para os EUA. Se perderem, os alemães até devem se classificar, mas apenas na segunda colocação, enquanto os americanos teriam boas chances de serem eliminados com uma derrota. "Obviamente queremos permanecer na liderança do grupo", disse Löw.
Entre a amizade e a rivalidade
Não poderia haver um roteiro melhor para este confronto. Os dois amigos têm muitas coisas em comum. A idade de ambos é parecida, uma vez que Löw tem 54 anos e Klinsmann completará 50 no mês que vem. Os seus locais de nascimento ficam a menos de 200 quilômetros um do outro — o técnico da seleção alemã nasceu na região da Floresta Negra e o do selecionado americano na Suábia. E nas últimas semanas os dois afirmaram em entrevistas exclusivas ao FIFA.com que prefeririam não precisar enfrentar o ex-companheiro.
"Ficamos pensando: 'esse jogo precisa mesmo acontecer?'", contou Klinsmann antes do torneio no site oficial da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. "Por outro lado, precisamos aceitar as coisas como elas são. Faremos de tudo para fazer uma boa partida contra a Alemanha. Temos a ambição de passar para a próxima fase e se precisarmos de um ou três pontos, tentaremos conquistá-los."
Löw manifestou sentimentos parecidos. "Não será a primeira vez que vamos viver isso, esta situação já aconteceu na nossa viagem para os EUA no verão passado", lembrou o técnico da Alemanha. "Mas é claro que desta vez há muito mais em jogo. Sempre fico feliz de me encontrar com o Jürgen. A nossa relação permanece próxima até hoje. Valorizo a opinião dele, para mim é sempre interessante ouvir o que ele pensa sobre situações e equipes. E nem precisa ser apenas sobre futebol. Quando trabalhamos juntos, funcionamos muito bem como equipe, foi uma época incrivelmente agitada e marcante. Sei que tenho a agradecer a Jürgen."
Para ler as entrevistas completas de Joachim Löw e Jürgen Klinsmann ao FIFA.com, clique nos links correspondentes. As declarações do treinador dos EUA também podem ser vistas em vídeo.
Por um curto período de tempo, tudo isso será esquecido. A questão agora é se classificar para as oitavas de final do Brasil 2014. O resultado será determinante para as duas seleções. O último duelo de grande importância entre Alemanha e EUA aconteceu no Mundial de 2002.
Os americanos faziam uma sensacional campanha na Coreia do Sul/Japão 2002 quando foram eliminados pela Alemanha nas quartas de final. Os alemães venceram pelo magro placar de 1 a 0, graças a um gol de Michael Ballack. Dois anos e 39 dias depois, teve início a trajetória comum de Klinsmann e Löw no comando do selecionado germânico. Agora, eles viverão mais um grande momento, mas em lados opostos.
Você se lembra? Reveja os melhores momentos do duelo entre EUA e Alemanha pelas quartas de final da Copa do Mundo 2002 clicando no link correspondente.