Parecia mesmo que, alguns minutos antes, havia terminado uma partida de quartas de final, com vitória e boa atuação do Brasil: os jogadores sorriam, as análises sobre aquilo que deu certo contra a Colômbia – e muita coisa deu – ocupavam toda roda de conversa e já se comentava sobre como seria o confronto com a Alemanha, na terça-feira. E, de repente, a saída do vestiário brasileiro mergulhou numa realidade paralela: um mundo novo e estranho, onde o Dr. Rodrigo Lasmar, um dos médicos da equipe, era o personagem mais procurado para entrevistas; onde todo mundo precisou aprender a pronunciar “fratura no processo transverso da terceira vértebra”, o que quer que isso quisesse dizer na vida real; e, mais do que qualquer coisa, onde Neymar estava fora da Copa.
“Eu só não saio completamente feliz hoje por não saber bem qual é a situação do Ney. Agora só nos resta orar muito para tudo estar bem e para que ele possa nos ajudar”, falava David Luiz à FIFA, terminando de forma ressabiada uma entrevista que, até então, era de otimismo e satisfação. Parecia um prenúncio. Passaram-se alguns minutos e, quando a maioria dos jogadores brasileiros já havia tomado a direção do ônibus, começou um telefone sem fio, que em segundos transformou os rumores desencontrados nas palavras peremptórias do Dr. Lasmar. Bem-vindos ao mundo da “fratura no processo transverso da terceira vértebra”.
Fratura na vértebra tira Neymar da Copa
“O Neymar, infelizmente, está fora do Mundial. Por sorte, se trata daquilo que chamamos de ‘fratura benigna’: não é uma fratura que deixe qualquer sequela e cujo tratamento é conservador, sem cirurgia. O tempo de recuperação varia demais de jogador para jogador: algo entre quatro a seis semanas. Depende muito”, explicava o médico ao FIFA.com, ele mesmo ainda um tanto aturdido. Minutos antes, afinal, Rodrigo estava no vestiário, tenso, esperando uma chamada do Dr. José Luiz Runco, chefe da equipe médica da Seleção, que acompanhava Neymar num exame de tomografia computadorizada.
E aí, quando a chamada veio, de um momento para o outro, era ele o porta-voz da pior notícia imaginável para o país todo - bem quando esse país celebrava uma boa atuação; quando suas maiores preocupações para retornar à primeira semifinal em 12 anos, até então, eram a ausência de seu capitão Thiago Silva, suspenso, e a solidez da rival Alemanha. De um momento para o outro, tudo isso ficou pequeno.
Tudo como antes (?)
Na zona mista, cercado por repórteres enquanto falava sobre a partida e sobre sua suspensão, Thiago Silva foi avisado por um deles do diagnóstico. Não a tal “fratura no processo transverso da terceira vértebra”, mas o diagnóstico que mais importava e doía. Só quatro palavras: “Neymar fora da Copa”.
Justiça seja feita: Thiago não gaguejou ou se espantou. Deu uma piscada um tanto mais pesada, respirou e seguiu falando sobre próximo passo, como se aquilo se tratasse apenas de um desfalque mais: “Nós temos improviso. Temos várias peças que podem desequilibrar”, falava o zagueiro, no momento em que não pôde deixar de olhar para o lado e notar o Dr. Rodrigo Lasmar rodeado de jornalistas, repetindo com a mesma feição sóbria sua enésima explicação sobre que diabos é o processo transverso da terceira vértebra. “É, o Rodrigo está confirmando, né?”, o capitão comentou, com ar ainda meio perdido - como se só assim, diante da imagem do médico rodeado de repórteres, começasse a acreditar e pensar naquilo que, instantes antes, eram só quatro palavras tenebrosas.
“É triste”, e pausou. “É triste, porque só a gente sabe quanto esse garoto sonhou com esta Copa do Mundo.” Outra pausa, só o bastante para o fato começar a ser, vá lá, assimilado. E, então, Thiago retomou o discurso de onde tinha parado, lá atrás, antes de saber da lesão. “Mas tenho certeza de que a gente tem jogadores de qualidades para suprir essa ausência. Acredito muito no William, que tem essas mesmas características. Nós vamos ganhar esta Copa. Não só pelo Neymar, mas por todos nós. Nós merecemos.”
Impossível cobrar do capitão qualquer discurso que não esse. Não naquela hora. De repente, a realidade que até há pouco era paralela se tornava a única existente para a Seleção semifinalista. E, nela, só cabe mesmo fazer o que Thiago Silva fez no discurso: retomar a vida que havia antes da lesão de Neymar. Como se isso fosse realmente possível.