María Ester Escobar nunca esquecerá aquele dia 2 de julho de 1994 em Los Angeles (EUA). Era de madrugada, naquelas horas em que o telefone só toca quando existe alguma urgência. Demorou a atender e, quando conseguiu, sentiu um aperto no peito. A voz tremida do ex-jogador "Barrabás" Gómez, que ligava da Colômbia, fez o resto. "María, tenho uma noticia muito ruim para vocês. O Andrés... Mataram o Andrés".
Para o mundo do futebol, Andrés era o talentoso defensor do Atlético Nacional de Medellín e da seleção colombiana. Mas, para María Ester e o restante da família Escobar, o jogador de 27 anos representava muito mais. "Era nosso irmãozinho, nosso orgulho", conta a irmã com um tom inconfundível de saudade ao FIFA.com.
"Às vezes, preferia que não lembrassem o Andrés todos os dias, porque é realmente muito doloroso. Mas ele deixou sua marca e é normal que isso aconteça", acrescenta José, outro dos irmãos do zagueiro assassinado com seis tiros na saída de um bar de Medellín. No local onde encontrou a morte, acabava de se defender das provocações de compatriotas por causa do gol contra que marcou na Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994.
Já se passaram 20 anos desde então. Vinte anos implacáveis e dolorosos, como definem seus irmãos no Rio de Janeiro. Convidados pela FIFA, eles precisam lidar com sensações bem díspares. "Principalmente pela maneira como esta Copa começou, com um gol contra(do brasileiro Marcelo a favor da Croácia)", explica María Ester. "Isso traz lembranças muito tristes e dolorosas para nós. Mas o bom é entender que isso faz parte do jogo, que é a coisa mais normal que pode acontecer. Estamos muito felizes de estar aqui, de fazer parte de toda a alegria que o futebol gera nas outras pessoas".
A vida não acaba aquiO assassinato de Andrés não afastou os Escobar do futebol. Pelo contrário. Em cada jogo da seleção colombiana no Brasil 2014, seus irmãos e sobrinhos comparecem ao estádio com a camisa da equipe, sempre com o número 2 e o sobrenome familiar nas costas. "A vida não acaba aqui", afirmam, repetindo a frase que o ex-zagueiro escreveria cinco dias antes de falecer em uma coluna de opinião no jornal El Tiempo, em referência à eliminação do conjunto dos Estados Unidos 1994.
Sem saber, esse lema se transformaria no motor de sua família para superar o fantasma de sua ausência. "Vinte anos é muito tempo, (e foi) realmente muito duro. Mas eu prefiro agradecer a Deus por ter permitido que convivêssemos 27 anos com ele, por tê-lo emprestado a nós. Sei que não foi muito, mas foram anos importantes", afirma María Ester, que, visivelmente emocionada, vive com alívio o fato de passar estes dias longe da Colômbia.
"Preferia sair de Medellín, porque lá lembrarão o que aconteceu ao Andrés em todos os noticiários e jornais, e vai ser muito duro. Melhor estar aqui, com a família, e mandar rezar uma missa quando voltarmos ao país", explica. Um país que relembra, e que sonha porque sua seleção – na qual jogam Faryd Mondragón e Mario Yepes, ex-companheiros de Escobar – está pela primeira vez nas quartas de final de uma Copa do Mundo da FIFA.
"Neles(Mondragón e Yepes) e na equipe está o espírito do Andrés", explicam os dois irmãos, que, antes de se despedir, expressam à Colômbia e ao mundo inteiro o que esperam neste dia 2 de julho tão especial. "O futebol deve ser vivido com intensidade, mas como um esporte. Que sirva de lição para todos, e que não haja violência. O futebol deve servir para unir o país em torno de uma mensagem de paz e de amor", concluem.