Poderia ter sido tudo muito diferente. Os jornalistas já começavam a encerrar os seus relatos da partida em Fortaleza com manchetes como "México avança" ou "Sonho holandês para em Ochoa". Os milhares de votos dos torcedores no FIFA.com, no Twitter e no aplicativo da FIFA deram a Guillermo Ochoa o prêmio de Craque do Jogo Budweiser, certamente creditando o goleiro mexicano pela vitória após o gol de Giovani dos Santos.
Aos 43 minutos do segundo tempo, porém, o drama asteca começou a se desenhar. As mudanças táticas de Louis van Gaal surtiriam efeito diante da equipe de Miguel Herrera. Depois de começar o jogo no 3-4-1-2, o técnico transformou a Holanda em um 4-3-3 no segundo tempo e, à medida que a derrota parecia inevitável, em um 4-2-4 sem nada a perder. Após um escanteio da direita cobrado por Arjen Robben, o atacante Klaas-Jan Huntelaar cabeceou para trás e Wesley Sneijder surgiu para chutar forte de primeira, no canto esquerdo de Ochoa. 
Os mexicanos ficaram visivelmente abalados com a perspectiva de adiar o sonho de disputar as quartas de final em Salvador. Antes da prorrogação, porém, os holandeses mostrariam que não estavam vencidos. Nos acréscimos, Robben invadiu a área e sofreu pênalti. Huntelaar, que havia saído do banco para entrar no lugar de Robin Van Persie, se apresentou para a cobrança. O atacante do Schalke não desperdiçou a oportunidade de dar outro desfecho à história.
Para Dirk Kuyt, a partida tinha um significado especial. O jogador do Fenerbahçe foi usado na lateral esquerda, na lateral direita e até como ponta-direita, mas admitiu ter acreditado que terminaria o seu centésimo jogo com a camisa da Holanda no lado eliminado. "Foi incrível, um dia especial para mim", disse ele ao FIFA.com com exclusividade. "Ser o sétimo jogador na história do futebol holandês a alcançar a marca de 100 partidas pela seleção e terminar o jogo assim é sensacional. Estou muito orgulhoso, tenho orgulho do time e do nosso espírito de equipe. Continuamos lutando até o fim e estamos muito felizes com o resultado."
"No futebol, principalmente no futebol de uma Copa do Mundo, quando você joga em um estádio como esse, às vezes não importa como você joga ou o que você faz", prosseguiu Kuyt. "Só o que importa é ganhar. Foi isso o que a equipe mostrou hoje. O México foi um adversário difícil com uma defesa valente e bons atacantes. Foi difícil criar chances, precisamos ser pacientes e continuar lutando. Continuamos lutando, com três esquemas táticos e conseguimos. No fim das contas, acho que a diferença entre os mexicanos e nós foi a qualidade individual. O espírito de luta das duas equipes foi sensacional, mas temos jogadores como Robben e Van Persie, que podem mudar o jogo a qualquer momento. Van Persie lutou muito e foi substituído por Huntelaar, e ele decidiu."
Huntelaar era só sorrisos ao ouvir os elogios do experiente Kuyt. "Você sonha com momentos como esse, em que é difícil voltar e de repente acontece", "comentou o atacante. "Sabíamos que seria difícil, eles tinham a vantagem do clima, principalmente quando estava 1 a 0 a dois minutos do fim. Mas a gente tenta o nosso melhor e dá tudo de si. Veio o escanteio e vi que eu não conseguiria colocar a bola no gol, então a pus de volta na área. Não sabia se alguém estava lá, mas o Wesley (Sneijder) estava e pegou em cheio. Daí começamos a acreditar e conseguimos o pênalti."
O que se seguiram foram momentos memoráveis. Enquanto os holandeses celebravam e cruzavam os dedos, os mexicanos imploravam em vão para que os árbitros mudassem de ideia. Huntelaar, por sua vez, aguardou a autorização para a cobrança segurando a bola indiferente ao caos à sua volta. "Eu estava tentando me concentrar porque todo mundo queria me perturbar e me fazer perder o foco", explicou ele. "Escolhi o canto e coloquei a bola lá. Ela entrou. Foi um sentimento incrível, um sonho realizado."