terça-feira, 10 de julho de 2018
BUERAREMA: CASA DE CULTURA JONAS E PILAR DIVULGA PROGRAMAÇÃO PARA O MÊS DE JULHO
– HISTORIOGRAFIA (Amanda Pó, 4min, 2017, SP) *este filme é mudo
– A PAZ AINDA VIRÁ NESTA VIDA (Isabella Geoffroy, Nícolas Bezerra, 6min, 2017, RJ) *menção honrosa
quinta-feira, 5 de julho de 2018
Com Fernandinho e Marcelo, Brasil escalado para a Bélgica
Tite confirma equipe titular contra a Bélgica: Alisson, Fágner, Miranda, Thiago Silva e Marcelo; Fernandinho, Paulinho e P. Coutinho, Willian, Neymar e Jesus
Com Marcelo de volta à lateral esquerda e Fernandinho no lugar do suspenso Casemiro, o técnico da Seleção Brasileira, Tite, adiantou a escalação da equipe titular que vai a campo contra a Bélgica nesta sexta-feira (6), em duelo válido pelas quartas de final da Copa do Mundo Rússia 2018.
Alisson, Fágner, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Fernandinho, Paulinho e Philippe Coutinho; Willian, Neymar Jr e Gabriel Jesus.
– Conversei com o Marcelo e o Filipe Luís. O Marcelo saiu por um problema clínico e não voltou no jogo seguinte por um problema físico, só poderia jogar de 45 a 60 minutos. O Filipe Luís jogou muito nos dois jogos, competem os dois, deixam a cabeça do homem um trevo. E por critério volta o Marcelo – afirmou o treinador.
Para o jogo contra a Bélgica, Tite escolheu o zagueiro Miranda para ser o capitão da equipe. Um dos mais experientes do grupo, o camisa 3 volta a receber a braçadeira nesta Copa do Mundo. Contra a Sérvia, na terceira rodada da fase de grupos, Miranda fez sua estreia com a função em Mundiais. Com o chamado de agora, o zagueiro acumula cinco oportunidades dentro do rodízio proposto por Tite desde que assumiu a equipe.
– A seleção brasileira está acostumada e tem responsabilidade de jogar em alto nível. Sabemos das dificuldades do jogo porque a Bélgica exige ainda mais concentração, da nossa capacidade técnica. É um adversário muito forte. Vamos entrar atentos, sabendo que para vencer um grande adversário temos que fazer o melhor – disse o defensor.
O Brasil só enfrentou a Bélgica em Copas do Mundo uma única vez. E foi na campanha o pentacampeonato em 2002. Naquele jogo, o Brasil venceu por 2 a 0, com gols de Ronaldo e Rivaldo. Mas, nesta edição, os "Diabos Vermelhos" mostram que têm uma grande equipe, com uma geração de jogadores muito técnicos e qualificados. Não à toa, a Bélgica detém o melhor ataque do Mundial, com 12 gols marcados.
– O poder criativo da Bélgica é muito forte, a qualidade, vai ser um grande jogo. São duas equipes que primam por um futebol bonito, cada um com suas características. A Bélgica tem valores individuais de qualidade, um grande técnico, uma grande campanha. Vai ser um grande jogo – ressaltou Tite.
Brasil e Bélgica disputam uma vaga na semfinal da Copa do Mundo nesta sexta-feira (6) na Arena Kazan às 15h (horário de Brasília).
terça-feira, 26 de junho de 2018
Brasil escalado para Sérvia, e Miranda será capitão
Seleção Brasileira disputa a classificação para as Oitavas de Final para a Copa do Mundo contra a Sérvia nesta quarta-feira (27) às 15h (horário de Brasília)
Quando a Seleção Brasileira pisar no gramado do Spartak Stadium para a disputa da classificação para as Oitavas de Final da Copa do Mundo Rússia 2018, nesta quarta-feira (27), vai começar a escrever uma história contra a Sérvia em Mundiais. Esta vai ser a primeira vez que os dois times se enfrentam na competição mais importante do planeta. O técnico da Seleção, Tite, já definiu quem começa a decisiva partida. Será a mesma equipe titular contra a Costa Rica: Alisson, Fágner, Miranda, Thiago Silva e Marcelo; Casemiro, Paulinho e Philippe Coutinho; Willian, Neymar e Gabriel Jesus. O zagueiro Miranda será o capitão da vez.
– Fico feliz em mais uma vez representar todo o grupo de capitães, todo o grupo da seleção brasileira. Se eu chegar à final e ganhar, posso ser capitão ou não, minha felicidade vai ser imensa, sendo ou não capitão – disse Miranda.
O Brasil só enfrentou a Sérvia uma única vez. Foi em 2014, durante a preparação para a Copa do Mundo. A equipe brasileira venceu por 1 a 0, com gols do atacante Fred. Naquela ocasião, quatro atletas titulares de Tite amanhã estavam em campo: Thiago Silva, Marcelo, Paulinho e Neymar. A equipe atual da Sérvia, que herdou o histórico da antiga Iugoslávia, é praticamente a mesma de 2014. E o estilo de jogo da equipe, que tem uma vitória e uma derrota nesta Copa, é pautado na força física dos jogadores e no uso das bolas aéreas. Como explicou o zagueiro brasileiro Thiago Siva no último treino do Brasil em Sochi:
– É uma equipe muito forte fisicamente, com média de altura de 1,88. Eles vão jogar muito com a bola parada. Temos que estar muito ligado nessa jogada, principalmente na segunda bola para a gente não ser surpreendido, pois a primeira é sempre difícil por conta da disputa – disse.
O técnico Tite e sua comissão técnica trabalham para neutralizar esse tipo de jogada desde o início da preparação para o Mundial, ainda na Granja Comary. O amistoso preparatório contra a Croácia foi um teste para simular o estilo de jogo apresentado pelo sérvios. Durante a coletiva realizada em Moscou nesta terça-feira (26), Tite também destacou a qualidade individual dos jogadores da Sérvia:
– (A Sérvia) tem a característica, sim, de bola aérea ofensiva, mas também a qualidade técnica individual. Jogadores de alto nível também. Temos a condição de poder neutralizar, evitar situações próximas, de faltas laterais, encurtar ou bloquear, e tirar proveito de alguma situação. Uma altura maior vai perder alguma coisa, a vida é assim. Estrategicamente vamos buscar. A equipe é a mesma – disse o treinador.
A Seleção Brasileira é líder do Grupo E, com quatro pontos. Em caso de vitória, a equipe brasileira se classifica como primeiro do bloco. O empate também garante o Brasil nas Oitavas. No outro jogo decisivo do grupo, jogam Suíça e Costa Rica. Os Suíços têm a mesma pontuação que a equipe Canarinho. Se a Costa Rica, já eliminada, vencer este duelo, a Seleção se classifica em primeiro do grupo mesmo com um empate contra os sérvios.
Histórico recente da Sérvia em Copas do Mundo (Histórico da Iugoslávia foi herdado pela Sérvia - FIFA):
- Melhores campanhas:
- 4º Lugar (1962)
- Semifinal (1930)
- 1998 – Última disputa como Iugoslávia (Oitavas)
- 2006 – disputou a Copa como Sérvia e Montenegro (Fase de Grupos)
- 2010 – A primeira Copa como Sérvia (Fase de Grupos)
- 2014 – Não participou
- 2018 – Primeira vitória em Copas como Sérvia independente – Sérv
STF solta José Dirceu
Ex-ministro aguardará em liberdade recurso no STJ
E o Lula? Quando o STF julgará a liberdade dele? (Crédito: Ivan Pacheco/VEJA)
Do G1:
Por 3 votos a 1, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta terça-feira (26) soltar o ex-ministro José Dirceu.
Condenado a 30 anos de prisão e 9 meses de prisão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Operação Lava Jato, ele já havia começado a cumprir a pena neste ano.
A proposta de libertar José Dirceu partiu do ministro Dias Toffoli e foi seguida pelos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. O único a votar contra foi Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF. Celso de Mello estava ausente na sessão e não participou do julgamento.
Toffoli defendeu a libertação de forma liminar (provisória) porque considera que há "plausibilidade jurídica" em um recurso da defesa apresentado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de segunda instância.
O ministro considerou que a pena de Dirceu pode ser reduzida nas instâncias superiores – o STJ e o próprio STF – e, por isso, propôs a soltura.
A decisão não altera a jurisprudência do STF que permite a execução provisória após condenação em segunda instância, mas cria uma exceção, que pode ser aplicada também a outros casos individualmente.
Durante a sessão, Fachin chegou a alertar Toffoli que a decisão seria contrária ao entendimento do STF, que autorizou a prisão em segunda instância.
Toffoli então respondeu: "Vossa excelência está colocando no meu voto palavras que não existem. Jamais fundamentei contrariamente à execução imediata da pena pelo STF [...] Não tem a ver com a execução imediata da pena”.
Numa tréplica, Fachin, disse: "Nós dois estamos entendendo o que estamos falando".
A decisão de soltar Dirceu foi proposta por Toffoli de ofício, isto é, independentemente do pedido principal da defesa levado a julgamento.
Na ação, os advogados do ministro contestavam o cumprimento da pena após a condenação em segunda instância.
Alegavam que, antes da condenação, o próprio STF chegou a revogar uma prisão preventiva de Dirceu e que a execução da pena foi decretada sem fundamentação específica, de forma automática. (...)
Fonte:https://www.conversaafiada.com.br
Suíca diz que Glover ‘denunciou o golpe contra Dilma e que o povo tem a força da democracia’
O ator Danny Glover e o vereador de Salvador Luiz Carlos Suíca | FOTO: Divulgação
Para o edil petista, a ideia de reforçar bandeiras de movimentos esquerdistas no país é fundamental para um momento de ataques e achaques feitos pelos “detentores do poder” contra o PT e contra os movimentos sociais. Suíca diz que a luta contra o racismo, contra a desigualdade social e a favor da reforma agrária não vai acabar com a tentativa de criminalizar os movimentos populares. “Essas bandeiras vão se somar à taxação das grandes fortunas e, assim, o país voltará a crescer sem precisar de golpistas. Temos de emplacar as reformas que eles querem vetar e vamos retomar o governo para devolver o ministérios das mulheres, o de cidadania e direitos humanos e do desenvolvimento agrário aos brasileiros”, pontua o vereador.
Em pronunciamento na agenda de sábado, Danny Glover considerou como positiva a presença majoritária de negros na população brasileira e baiana, ocupando os variados espaços da sociedade. “É o maior contingente populacional negro fora da Nigéria, por exemplo”. Segundo ele, as desigualdades raciais precisam estar no centro das atenções em todo o mundo. “Somos 200 milhões de afrodescendentes nas Américas, com 90% ainda vivendo na pobreza. É preciso tomar providências”, afirma o ator norte-americano.
Pernambués defende a democracia e as pré-candidaturas de Lula, Wagner, Coronel, Valmir e Suíca
domingo, 24 de junho de 2018
A UFSB E O COMBATE ÀS FRAUDES NA ENCRUZILHADA DO COMBATE AO RACISMO NO SUL DA BAHIA
Gabriel Nascimento || gabriel.santos@csc.ufsb.edu.br
Quando, em 2013, surgiu a notícia da chegada da UFSB, houve um poço de esperança e desconfiança com sua chegada, sobretudo para quem era do sul da Bahia, como eu. No entanto, aos poucos ela foi sendo entendida como uma grande via de desenvolvimento dessa região imensa, com várias costas e tão diversos territórios de identidade.
E a UFSB foi ousada sim. É verdade que não avançou mais porque, sendo uma das últimas universidades federais construídas na era Lula/Dilma, bateu de frente com um golpe, um governo usurpador e golpista que tem sucateado tudo que é público no país, e uma assassina PEC 55, agora Emenda Constitucional 93. Mas é verdade, também, que o plano de expansão dos colégios universitários fincou na universidade o grande objeto de combate ao racismo na nossa região através de um projeto de universidade regionalizada.
Depois das universidades com projetos distintos do Reuni (o programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais dos governos de Lula e DiLma) com inserção multicampie interiorização, em que universidades como a UNILAB ou UNILA cumpriam papéis de integração internacionalista Sul-Sul, ou como a UFABC que cumpria um papel ligado à integração com o setor produtivo, ou ainda a UFFS e a UFVJM que repensavam os territórios e identidades mais pobres de cada região e pensavam a inserção regional da universidade como forma de combater a pobreza, êxodo rural e promover a agricultura familiar, ou ainda a interiorização dos campi de universidades federais tradicionais, a UFSB era a menina dos olhos de ouro de quem pensava currículo universitário e ações afirmativas desde a base no país.
A UFSB foi ousada em termos de currículo e inserção regional. O seu projeto do currículo se alarga e se conecta ao da inserção à medida que sua proposta afirmativa mais ousada era a Rede Anísio Teixeira de Colégios Universitários, em que as próprias graduações de primeiro ciclo já começassem a funcionar na rede pública estadual com 85% de reserva de vagas para esse público. Para quem vem discutindo o projeto das cotas desde Durban, isso era quase mágico. Se não fosse o golpe, Temer e a Emenda 93.
Por outro lado, a UFSB também foi ousada no diálogo com o projeto de ações afirmativas para a graduação já existente em lei e nas demais federais. A comunidade acadêmica teve a coragem de reservar 55% de vagas nos campi e 85% nos colégios universitários para o ingresso nas chamadas graduações de primeiro ciclo. Aquilo era uma boa primeira resposta ao golpe e a Temer (mesmo tendo acontecido antes do golpe) de que essa universidade ia continuar resistindo. Mais tarde, mesmo com forte resistência interna, a aprovação de 75% das vagas para ingresso nas graduações de segundo ciclo colocaram a UFSB na grande encruzilhada do combate ao racismo regional nesta quadra de nossa história.
A autodeclaração foi uma das maiores tecnologias do nosso tempo. Fizemos até melhor que os Estados Unidos. O Estatuto da Igualdade Racial estabelece em suas premissas que agora este país devia admitir que há negros vivendo nele, forçando inclusive os candidatos nas eleições a se autodeclararem. Passados mais de 10 anos das cotas, os cursos de Medicina, Direito, Engenharias pouco se escureceram. Isso é visível. Basta passear dez minutos em qualquer faculdade de saúde do país. Parece a mesma coisa de andar pela Alemanha. Das duas uma: ou a lei de cotas excetua alguns cursos ou tudo isso não passa de um grande processo (que inclui cúmplices entre os agentes de Estado) de fraude. Bastaram as primeiras denúncias aparecerem em algumas grandes universidades, como UFRGS, UFMG ou UFF, para que a discussão da autodeclaração fosse reaberta por conta do racismo e da afroconveniência.
O racismo no Brasil, que é de marca e não de origem (no caso dos negros), soube utilizar a autodeclaração como sua tecnologia de burlar as cotas. Não em Letras e Filosofia. Mas em Medicina e Direito. Isso levou o Ministério Público Federal a sugerir comissões de verificação das fraudes. O argumento jurídico é simples. Na decisão da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186, impetrada pelo DEM para proibir verificação de cotas na UnB, e na Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 41, o Supremo Tribunal Federal já tinha decidido pela constitucionalidade das chamadas bancas de verificação.
O racismo é tão cruel que até gente que era contra as cotas hoje frauda as cotas nas universidades e concursos públicos. Quando permitiu as comissões ou bancas, o Supremo prezou pela isonomia constitucional ao entender que, para promover diversidade, era necessário conceber a existência de grupos específicos. No Estado da Bahia a questão é ainda mais grave por termos a maior população negra depois da África. Enquanto em estados como o Rio Grande do Sul as denúncias pipocam, aqui caímos na bobagem de não entender que, neste momento, combater o racismo estrutural é combater a fraude. O candidato da fraude em geral sequer passa pela suspeição do que chamamos de branco baiano, que é aquele branco logicamente diferente (porque os brancos são diferentes e não há nenhum problema nisso) do branco do Sudeste.
Em geral, o candidato é um branco do Sudeste que rememorou na história dos ancestrais algum negro, em alguma posição. Ele que, muitas vezes, lembrava só dos antepassados italianos, a quem avocava pelo próprio sobrenome, agora lembra de uma personagem que ele mesmo não lhe sabe e nem lhe atribui história. Essa é a forma de chamar a atenção das pessoas brancas sobre o racismo como crime perfeito (retomando a insistência do antropólogo Kabengele Munanga): nem pessoas brancas e muito menos as negras têm direito a conhecer seus ancestrais negros. Mas uma coisa temos que admitir: os pretos e pardos é que sofrem diretamente o racismo cordial e o estrutural, que são perseguidos e assassinados pelas forças paramilitares do tráfico e das polícias dos estados. Basta passear no Maria Pinheiro, em Ferradas (onde fica a sede em Itabuna), no Parque Ecológico ou no Paraguai (em Porto Seguro). Há um genocídio da juventude negra acontecendo a fraude das cotas é a grande cúmplice.
A encruzilhada do combate ao racismo hoje tem muitos caminhos. Inclusive o silêncio e o silenciamento. Por exemplo, não é possível ignorar que nas famosas reuniões da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais (ANDIFES) agora teremos um rosto negro (o único), com vasta produção em sua área, que é a recém-empossada reitora da UFSB, a professora Joana Angélica. Não é um fato menor. Imaginem João de Deus do Nascimento, herói da Revolta dos Malês, e Maria Felipa (heroína da independência do Brasil) vendo essa cena. É da ancestralidade de um povo milenar que surge o desejo da melhor justiça. Dos bancos de faculdade às reitorias, da participação na política à presidência da república. Queremos estar onde haja poder.
Neste momento, nessa encruzilhada, é preciso lutar pela justiça. E a justiça é aquela que adota a seriedade frente ao seu povo. Ao citar sempre a encruzilhada, aprendi com os meus que nela não é possível ser neutro. Ou se é ou não se é. Isso porque a encruzilhada nos joga para algum dos caminhos e é nele que devemos estar respondendo ao nosso povo. Neste momento a UFSB está no lugar desconfortável da encruzilhada e deverá, com uma gigante qualidade de sua comunidade, dar a melhor resposta. Sem titubear. O tempo da história não espera ninguém.
Gabriel Nascimento é professor da UFSB.
Fonte:http://www.pimenta.blog.br
A encruzilhada do combate ao racismo hoje tem muitos caminhos. Inclusive o silêncio e o silenciamento. Por exemplo, não é possível ignorar que nas famosas reuniões da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais (ANDIFES) agora teremos um rosto negro (o único), com vasta produção em sua área, que é a recém-empossada reitora da UFSB, a professora Joana Angélica. Não é um fato menor
Quando, em 2013, surgiu a notícia da chegada da UFSB, houve um poço de esperança e desconfiança com sua chegada, sobretudo para quem era do sul da Bahia, como eu. No entanto, aos poucos ela foi sendo entendida como uma grande via de desenvolvimento dessa região imensa, com várias costas e tão diversos territórios de identidade.
E a UFSB foi ousada sim. É verdade que não avançou mais porque, sendo uma das últimas universidades federais construídas na era Lula/Dilma, bateu de frente com um golpe, um governo usurpador e golpista que tem sucateado tudo que é público no país, e uma assassina PEC 55, agora Emenda Constitucional 93. Mas é verdade, também, que o plano de expansão dos colégios universitários fincou na universidade o grande objeto de combate ao racismo na nossa região através de um projeto de universidade regionalizada.
Depois das universidades com projetos distintos do Reuni (o programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais dos governos de Lula e DiLma) com inserção multicampie interiorização, em que universidades como a UNILAB ou UNILA cumpriam papéis de integração internacionalista Sul-Sul, ou como a UFABC que cumpria um papel ligado à integração com o setor produtivo, ou ainda a UFFS e a UFVJM que repensavam os territórios e identidades mais pobres de cada região e pensavam a inserção regional da universidade como forma de combater a pobreza, êxodo rural e promover a agricultura familiar, ou ainda a interiorização dos campi de universidades federais tradicionais, a UFSB era a menina dos olhos de ouro de quem pensava currículo universitário e ações afirmativas desde a base no país.
A UFSB foi ousada em termos de currículo e inserção regional. O seu projeto do currículo se alarga e se conecta ao da inserção à medida que sua proposta afirmativa mais ousada era a Rede Anísio Teixeira de Colégios Universitários, em que as próprias graduações de primeiro ciclo já começassem a funcionar na rede pública estadual com 85% de reserva de vagas para esse público. Para quem vem discutindo o projeto das cotas desde Durban, isso era quase mágico. Se não fosse o golpe, Temer e a Emenda 93.
Por outro lado, a UFSB também foi ousada no diálogo com o projeto de ações afirmativas para a graduação já existente em lei e nas demais federais. A comunidade acadêmica teve a coragem de reservar 55% de vagas nos campi e 85% nos colégios universitários para o ingresso nas chamadas graduações de primeiro ciclo. Aquilo era uma boa primeira resposta ao golpe e a Temer (mesmo tendo acontecido antes do golpe) de que essa universidade ia continuar resistindo. Mais tarde, mesmo com forte resistência interna, a aprovação de 75% das vagas para ingresso nas graduações de segundo ciclo colocaram a UFSB na grande encruzilhada do combate ao racismo regional nesta quadra de nossa história.
A autodeclaração foi uma das maiores tecnologias do nosso tempo. Fizemos até melhor que os Estados Unidos. O Estatuto da Igualdade Racial estabelece em suas premissas que agora este país devia admitir que há negros vivendo nele, forçando inclusive os candidatos nas eleições a se autodeclararem. Passados mais de 10 anos das cotas, os cursos de Medicina, Direito, Engenharias pouco se escureceram. Isso é visível. Basta passear dez minutos em qualquer faculdade de saúde do país. Parece a mesma coisa de andar pela Alemanha. Das duas uma: ou a lei de cotas excetua alguns cursos ou tudo isso não passa de um grande processo (que inclui cúmplices entre os agentes de Estado) de fraude. Bastaram as primeiras denúncias aparecerem em algumas grandes universidades, como UFRGS, UFMG ou UFF, para que a discussão da autodeclaração fosse reaberta por conta do racismo e da afroconveniência.
O racismo no Brasil, que é de marca e não de origem (no caso dos negros), soube utilizar a autodeclaração como sua tecnologia de burlar as cotas. Não em Letras e Filosofia. Mas em Medicina e Direito. Isso levou o Ministério Público Federal a sugerir comissões de verificação das fraudes. O argumento jurídico é simples. Na decisão da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186, impetrada pelo DEM para proibir verificação de cotas na UnB, e na Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 41, o Supremo Tribunal Federal já tinha decidido pela constitucionalidade das chamadas bancas de verificação.
O racismo é tão cruel que até gente que era contra as cotas hoje frauda as cotas nas universidades e concursos públicos. Quando permitiu as comissões ou bancas, o Supremo prezou pela isonomia constitucional ao entender que, para promover diversidade, era necessário conceber a existência de grupos específicos. No Estado da Bahia a questão é ainda mais grave por termos a maior população negra depois da África. Enquanto em estados como o Rio Grande do Sul as denúncias pipocam, aqui caímos na bobagem de não entender que, neste momento, combater o racismo estrutural é combater a fraude. O candidato da fraude em geral sequer passa pela suspeição do que chamamos de branco baiano, que é aquele branco logicamente diferente (porque os brancos são diferentes e não há nenhum problema nisso) do branco do Sudeste.
Em geral, o candidato é um branco do Sudeste que rememorou na história dos ancestrais algum negro, em alguma posição. Ele que, muitas vezes, lembrava só dos antepassados italianos, a quem avocava pelo próprio sobrenome, agora lembra de uma personagem que ele mesmo não lhe sabe e nem lhe atribui história. Essa é a forma de chamar a atenção das pessoas brancas sobre o racismo como crime perfeito (retomando a insistência do antropólogo Kabengele Munanga): nem pessoas brancas e muito menos as negras têm direito a conhecer seus ancestrais negros. Mas uma coisa temos que admitir: os pretos e pardos é que sofrem diretamente o racismo cordial e o estrutural, que são perseguidos e assassinados pelas forças paramilitares do tráfico e das polícias dos estados. Basta passear no Maria Pinheiro, em Ferradas (onde fica a sede em Itabuna), no Parque Ecológico ou no Paraguai (em Porto Seguro). Há um genocídio da juventude negra acontecendo a fraude das cotas é a grande cúmplice.
A encruzilhada do combate ao racismo hoje tem muitos caminhos. Inclusive o silêncio e o silenciamento. Por exemplo, não é possível ignorar que nas famosas reuniões da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais (ANDIFES) agora teremos um rosto negro (o único), com vasta produção em sua área, que é a recém-empossada reitora da UFSB, a professora Joana Angélica. Não é um fato menor. Imaginem João de Deus do Nascimento, herói da Revolta dos Malês, e Maria Felipa (heroína da independência do Brasil) vendo essa cena. É da ancestralidade de um povo milenar que surge o desejo da melhor justiça. Dos bancos de faculdade às reitorias, da participação na política à presidência da república. Queremos estar onde haja poder.
Neste momento, nessa encruzilhada, é preciso lutar pela justiça. E a justiça é aquela que adota a seriedade frente ao seu povo. Ao citar sempre a encruzilhada, aprendi com os meus que nela não é possível ser neutro. Ou se é ou não se é. Isso porque a encruzilhada nos joga para algum dos caminhos e é nele que devemos estar respondendo ao nosso povo. Neste momento a UFSB está no lugar desconfortável da encruzilhada e deverá, com uma gigante qualidade de sua comunidade, dar a melhor resposta. Sem titubear. O tempo da história não espera ninguém.
Gabriel Nascimento é professor da UFSB.
Fonte:http://www.pimenta.blog.br
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