domingo, 22 de agosto de 2021

INTERCEPT: Quem financia o golpe do dia 7

 



Sábado, 21 de agosto de 2021
Quem financia o golpe do dia 7

Descobrimos quem paga a horda de golpistas

Ontem a Polícia Federal amanheceu na porta de uma dezena de bolsonaristas que lideravam um movimento para derrubar ministros do Supremo Tribunal Federal em 7 de setembro. O golpista mais conhecido é o cantor sertanejo e ex-deputado federal Sérgio Reis. Mas quem está por trás do financiamento da sanha golpista? Nós fomos atrás. Seu aliado mais poderoso é Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja, a Aprosoja.

Nas últimas semanas, monitoramos grupos de Telegram e WhatsApp e conversamos com pessoas que estão organizando a ação. E topamos com um dos grupos mais ricos do país: produtores rurais como Antonio Galvan. O agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo. Agora o agro também é golpe.

Galvan chegou a ser cotado para o Ministério da Agricultura do governo de Jair Bolsonaro e apareceu ao lado de Sérgio Reis em um vídeo em que o cantor falava em fazer uma greve para pressionar o Supremo e o Congresso.

A generosidade dos empresários do agro com o governo federal é recíproca, claro. Se por um lado gente como Galvan financia movimentos golpistas, por outro, se beneficia do caos. Nos últimos dois anos, Bolsonaro mandou mais de R$ 121 milhões para associações, sindicatos rurais e cooperativas ligadas ao agronegócio, segundo levantamento que fizemos no Portal da Transparência. Sem licitação, patrocinou mais de uma dúzia de feiras e eventos do setor, como a Agrotec Show Feira Agrotecnológica de Negócios, no Mato Grosso, e a 51ª Exposição e Feira Agropecuária de Castanhal, no Pará.

A maior parte dos recursos saiu dos Ministérios da Agricultura, Economia e Defesa. Destaque para o Comando do Exército, que sozinho investiu três vezes mais verbas nessas organizações que a Marinha e a Aeronáutica juntas. É o governo militar investindo em grupos que desejam lhe dar o poder absoluto.

Leia nossa reportagem agora.

 

Destaques


Nos últimos dias, o Intercept publicou muitas matérias sobre os planos e esquemas da extrema direita brasileira. Temos investigações rolando e queremos acelerar o andamento delas antes que seja tarde demais. Você pode nos ajudar a publicar muito mais.

VEJA COMO AJUDAR → 

O Criador
Leandro Demori
Radical católico da Espanha treinou extrema direita brasileira em 2013 com táticas que elegeram Bolsonaro.

LEIA MAIS →

Entrevista: ‘Crianças nunca estiveram tão em risco na pandemia quanto agora’
Nayara Felizardo
Pesquisadores alertam que, sem vacinação e com volta às aulas e chegada da variante delta, crianças enfrentam maior risco de morte por covid-19.

LEIA MAIS →

Banco Imobiliário
Vinicius Konchinski
Novo dono dos Correios levará junto 2.500 imóveis em alguns dos bairros mais caros do país – e a estatal nem sabe quanto valem.

LEIA MAIS →

Nove grandes erros que os militares brasileiros nunca reconheceram
Lucas Rezende
Está na hora de as Forças Armadas entenderem que não são tutoras da sociedade brasileira, a quem devem desculpas por erros graves que listo aqui.

LEIA MAIS →

A América Latina está pronta para a 3ª dose da vacina?
Lucas Berti, Maurício Brum
Enquanto boa parte dos países ainda estão longe de ter suas populações vacinadas com duas doses, República Dominicana, Chile e Uruguai dão o pontapé na 3ª dose. Mas será que já deveríamos estar pensando nisso?

LEIA MAIS →

O Talibã apreendeu dispositivos de biometria militar dos EUA
Ken Klippenstein, Sara Sirota
Os equipamentos de biometria guardam dados de afegãos que colaboraram com os EUA – e agora são alvo do Talibã. 

LEIA MAIS →

sábado, 21 de agosto de 2021

BRASIL 247 - Gasolina já é vendida a R$ 7,36 em postos do País

 

‘Talibã’ brasileiro tentará golpe neopentecostal em três semanas

 

Bolsonarismo fomenta ‘jihad’ evangélica que vai mergulhar o país no caos de uma teocracia de Malafaias, apoiados na opressão das milícias

Ilustração de Cláudio Duarte

Por Homero Gottardello, jornalista e bacharel em Direito

O fundamentalismo não é uma prerrogativa desta ou daquela religião. Mais do que uma prática adesiva islâmica, que nega a modernidade e o mundo contemporâneo, o fundamentalismo que conhecemos (e pelo qual nutrimos um verdadeiro e justificado temor) é uma franquia que nasce no protestantismo norte-americano, em 1910, no Seminário de Princeton – não confundir com a Universidade de Princeton, da mesma cidade. Do conceito original, que se assentava na infalibilidade da Bíblia, no nascimento virginal de Jesus e na morte do Cristo como expiação dos pecados da humanidade, na sua ressurreição e na veracidade de seus milagres, o fundamentalismo foi transfigurado politicamente por quem o criou e, hoje, é usado de má-fé para rotular apenas as milícias muçulmanas – se esquecendo da sua origem no protestantismo anglo-saxão.

Ao contrário do que a mídia hegemônica faz crer, o radicalismo islâmico não é só um movimento anticivilizatório, mas um aliado de outrora do imperialismo que, para ultrapassar a última barreira que o impede de espoliar a riqueza de nações como o Afeganistão e o Irã, não se importa de fomentar todo tipo de conflito interno, de conflagração, de enfrentamento. Só não estava nos planos do Tio Sam que este mesmo extremismo se travestiria na forma de autodeterminação que estes povos têm, hoje: na barbárie.

Pois bem, o Brasil está a um passo, ou melhor, a três semanas de mergulhar no caos de uma guerra religiosa, de uma espécie de Revolução dos Aiatolás às avessas. E só não enxerga isso quem é cego, surdo ou, apenas e tão somente, burro!

Ocorre que o neocolonialismo que se opera no Brasil, desde os anos 60, avançou para um novo estágio e, a partir do golpe jurídico-midiático-parlamentar de 2016, a estrutura de Estado é dilapidada da mesmíssima forma que aconteceu no Afeganistão, no Iraque, no Paquistão e na Síria, para citar apenas quatro países onde os Estados Unidos envenenaram a sociedade, patrocinaram a formação e o treinamento de milícias, implementando uma política de terra arrasada para, depois da devastação, surgir como salvador da pátria e reconduzir aqueles que assolou à democracia – ao seu modelo de democracia, é bom frisar. A primeira etapa do plano, que é a desindustrialização do Brasil, está em fase de conclusão: hoje, a indústria nacional não produz nem muletas, que vêm da China, o setor aeronáutico foi entregue a preço de banana para a Boeing e o automotivo vê fechar uma grande fábrica a cada dois meses; vide Ford, Audi e Mercedes-Benz. Para quem não sabe, já importamos esterco.



No campo político, o bolsonarismo não acabou, mas desestabilizou toda uma estrutura de Estado que levou pelo menos 200 anos para ser consolidada. O vampiro-golpista Michel Temer iniciou o processo, desmontando a regras trabalhistas e a Justiça do Trabalho, lançando milhões de pessoas ao subemprego e o país, de volta a uma economia de subsistência – um retrocesso de pelo menos três séculos, anterior ao Ciclo da Cana-de-Açúcar. Na sequência, o “neonazifacismo” pôs fim à segurança jurídica, ao mercado consumidor, às instituições de ensino e à organização política. Ao incentivar a desobediência às leis, ao matar a economia, desmoralizar a escola e enlamear os poderes, fazendo das Forças Armadas motivo de chacota, o bolsonarismo preparou o terreno para o surgimento, o crescimento e, a partir de setembro, o domínio pela violência de um grupo que, até agora, se contentava com uma vida de gado dentro dos templos: os fundamentalistas neopentecostais.

O discurso de ódio de “pastores” como Silas Malafaia, que nas últimas semanas partiram para a incitação desvelada da fúria de seus “talibãs”, é um indício claríssimo, cristalino, inequívoco de que há uma convergência de discursos, de forças, no sentido de uma revolução de radicais. Não é preciso ser um especialista em relações internacionais para saber que a instalação de uma teocracia neopentecostal, no Brasil, transformaria o país em um Afeganistão sul-americano e entregaria o poder a líderes como o próprio Malafaia.


O que impressiona é o fato de todos os elementos para isso já estarem postos e ninguém se dar conta: a evasão do capital internacional, o fechamento de multinacionais, a precarização do trabalho, a destituição da Justiça como mediadora dos conflitos, o desmonte das universidades, a destruição do sistema de saúde pública e, a partir de novembro, os cortes no fornecimento de água e energia elétrica. Nós estamos a três semanas de termos nossas vidas completamente transformadas por “jihadistas” que nos levarão de volta à era das cavernas, “em nome de Jesus”, e ninguém se dá conta!

Quem assistiu as cenas do povão invadindo a pista do aeroporto de Cabul, da multidão se dependurando nas pontes de embarque (‘fingers’) para conseguir um assento em um voo para qualquer destino, vê o desespero da população. E, ali, não são os trabalhadores da construção civil, os operários das fábricas ou os comerciários que aparecem, uns pisando sobre os pescoços dos outros. São a “elite” afegã – equivalem aos nossos supermercadistas, nossos empresários, nossos promotores de justiça, nossos executivos.

Depois de 7 de Setembro, não nos restará mais do que aquela mesma agonia, aquela descrença, aflição e, quando muito, uma disposição para abandonar tudo e fugir. E se o leitor duvida disso, basta observar um dado muito objetivo: nos 20 anos de presença militar britânica e norte-americana no Afeganistão, cerca de 200 mil pessoas foram mortas – cerca de 3 mil militares da coalizão, mais 60 mil homens da forças de segurança locais e 120 mil civis. Em menos de dois anos, só a pandemia já matou quase 600 mil brasileiros!


Por fim, é preciso deixar claro que o Talibã afegão começou, em 1994, com 40 estudantes patchuns, grupo etnolinguístico que representava menos de 40% da população do país, e estes poucos cooptaram milhares de milicianos violentíssimos. Também é necessário frisar que os talibãs originais foram financiados, armados e treinados – alguma semelhança com o que vem se operando, no Brasil, só que com milícias digitais? – pela Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana, que fez deste grupo um dos mais ferozes do planeta. Durante o período de ocupação soviética, entre 1979 e o final dos anos 80, a injeção de dinheiro da CIA chegou a 800 milhões de dólares – o equivalente a mais de R$ 1,52 bilhão – e, logo que os ‘jihadistas’ venceram a guerra civil, seu governo de lei e ordem islâmicas foi comemorado pela segurança que, em princípio, trouxeram de volta. Só que, a exemplo que ocorre por aqui, lá ninguém se deu conta de que o interesse norte-americano não tinha nada a ver com democracia ou religião: era o petróleo que os Estados Unidos cobiçavam. E aí, deu no que deu…

Portanto, minimizar o que está em curso, no Brasil, é uma omissão que vai custar caríssimo a todos nós. Isso porque da mesma forma que a vitória dos talibãs, no Afeganistão, não significa a derrota do imperialismo – pelo contrário, o triunfo do imperialismo se dá pelo esfacelamento, pela fragmentação dos estados, que abre caminho para sua reocupação – os ataques às instituições, por aqui, só têm por objetivo o enfraquecimento de nossa sociedade, a nossa desagregação. Lembrando ainda que, diante da iminência de vitória dos talibãs, o presidente afegão, Ashraf Ghani, foi o primeiro a fugir e que seus sequazes o seguiram na debandada. Então, ninguém deve se espantar quando o primeiro escalão brasileiro (os figurões dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário) for, também, o primeiro a desertar, na hora que a sublevação que o bolsonarismo incitou se tornar incontrolável.

Daí, restaremos nós e o caos: a anarquia do fanatismo, a selvageria das milícias, a desordem e os estupros, a balbúrdia dos saques, o patrimônio assolado. Reagir, agora, é uma questão de sobrevivência!

Obs. A ilustração de abertura é de Paulo Victor Magno

JORNAL DAS PRAIAS VIVA 72 ANOS DE IBICARAÍ

https://drive.google.com/file/d/1VS3UHbudMASOvoTt8TItsCdeDwXUmo-S/view?usp=drive_link