Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.
Adylson Machado
Pedagogia
A imagem pública do ex-presidente Lula está entre as mais fixadas no imaginário do brasileiro. E como dirigente do Brasil no estrangeiro. Quem duvidar e esteja viajando pergunte lá fora sobre Lula e verá admiração nutrida ao operário que se tornou a maior expressão de uma nação em tempos recentes. As dezenas de títuloshonoris causae e outras homenagens bem traduzem o afirmado acima.
Não bastasse, avaliação procedida pelos pesquisadores liderados por John Ayers, da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos, revelam o efeito pedagógico do câncer na laringe que acometeu Lula, o que levou a um aumento considerável de buscas na rede por informações sobre a doença e como preveni-la, inclusive em torno de uma de sua principais causas: o tabagismo.
Não há registro, a partir do estudo, de que a busca por meios que levassem a parar de fumar – inspirada em Lula – tenha efetivamente levado à abstinência do tabaco.
Tal fato é natural. Todos olham lideranças e as tomam por exemplo. Imaginemos se Barack Obama adquirisse uma obesidade mórbida e a Medicina atribuísse o fato ao consumo da fast food que os EUA fazem espalhar pelo mundo!
Explicando
Temos acompanhado o desenrolar dos fatos que envolvem os “presos da Papuda”. Assim são chamados os petistas que lá se encontram como se lá somente houvesse Dirceu, Genoíno e Delúbio. Há uma luta insana (em sentido pleno) de negar aos presos os direitos que lhe são assegurados em lei.
O mais absurdo reside em limitar o tempo de leitura. Seria piada se não fosse realidade: a leitura passa a ser definida como uma regalia ao preso, razão por que ler mais de duas horas seria um privilégio odioso.
Não queremos enveredar aqui (pouco espaço, tempo curto) para tratar do que representa o hábito da leitura para a mente humana e, consequentemente, o organismo como um todo. A atuação da mente, incentivada pela leitura – entre outras atividades de exercício – é contributiva inclusive para prevenção e redução dos efeitos da doença de Alzheimer. Apenas diremos que em terras civilizadas a leitura em prisões é incentivada (até para preenchimento das 24 horas, se o suportar preso).
Não fora isso – diz a sabedoria popular: “mente parada, oficina de Satanás” – a ociosidade para quem está detido em nada contribui para a sua ressocialização. Veja-se o índice de reincidência e verifique-se o quanto leu enquanto preso cada reincidente.
No entanto a leitura ora assume foros de regalia e privilégio. Melhor explicação circulou na rede: “Num país em que a ABL tem entre seus membros FHC e Merval, a leitura é praticamente um delito.”
Esqueceu apenas de dizer, ou completar: na Academia Brasileira de Letras há quem deveria estar preso por se meter a escrever.
Tuma mente
Causa frisson – e mais causará quando lançado o livro – a denúncia de Romeu Tuma Jr de que Lula foi dedoduro no regime militar. A nada crível (des)informação não precisou ser contestada por esquerdistas radicais nem comunistas comedores de criancinhas. O próprio Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa de Lula, quando indagado e reindagado por Diogo Mainardi sobre o tema no Manhattan Conection, como observado por Paulo Moreira Leite na IstoÉ.
Para o leitor a definição do que está mais próximo da verdade: FHC ou a natureza de Tuma Jr.
Arauto da razão
Escrevemos recentemente sobre o descarte de Fernando Henrique Cardoso no que diz respeito a uma possível candidatura do ministro Joaquim Barbosa a presidente da República (“Barbosa descartado”, na quinta 2). Para FHC Barbosa “não tem traquejo” para o cargo. Não se negue verdade no expressado pelo ex-presidente.
O atual presidente do STF não tem seu nome ventilado por méritos administrativos, muito menos por qualidades políticas, tampouco por propostas que correspondam a muitos dos anseios do país ainda não suficientemente correspondidos.
Atende à sanha de uma parcela da sociedade – a de sempre – que se ampara em qualquer peça que possa ser utilizada no tabuleiro para fazê-la avançar ou retornar a uma posição de controle em seu xadrez. Não àquela eminentemente político-oposicionista; mas a que alimenta em suas entranhas o que há de discurso moralista, reacionário e – por que não dizer – golpista por excelência.
Para ela Joaquim Barbosa é o que de ideal acontece. Especialmente por encarnar a sublimação do vingador.
A razão que se atribui a FHC é a de haver aproveitado a oportunidade – do alto da cátedra de ex-presidente da República – para definir, no âmbito político-eleitoral, o que já disseram em outras vertentes juristas e cientistas políticos.
Sintetiza uma reflexão singular: como candidato a presidente da Nação Joaquim Barbosa não vende nem as máscaras de Carnaval produzidas a partir da sua imagem bufã, não fora começar a ser reconhecido como aberração jurídica presente no STF, da qual foge qualquer político que se apresente lúcido.
E que não passa de uma caricatura capturada pela mídia.
Nesse instante, pelo que disse em relação a Joaquim Barbosa, FHC se apresenta como arauto da razão.
Perdendo a batalha
Poucos os meses de batalha. A inglória tentativa de enfrentamento ao Programa Mais Médico encetada pelo Conselho Federal de Medicina vai acumulando derrotas. Inclusive no plano judicial, onde o CFM ingressou com ação para frustrar o Programa.
Não bastasse, o apoio da sociedade mais está para o Governo e sua busca de assegurar o mínimo de atendimento ao povo, gerando uma antipatia a quem lhe seja contra.
Os fatos vão demonstrando que a classe médica – através de sua representação, visto que não traduz a unanimidade entre os próprios pares – perdeu ótima oportunidade de ficar calada e aguardar fatos concretos que lhe pudessem dar razão.
O afastamento da mídia reflete a compreensão de que o CFM e os partidos políticos (como o PSDB) tomaram consciência de que a batalha está perdida.
Não sabemos se o pior é perder a batalha ou o desgaste para a imagem que fica para o CFM, de haver sido contra o Mais Médicos.
Curiosidades republicanas
Disponível no www.presidencia.gov.br uma infinidade de informações – atuais e pretéritas – envolvendo o Governo do Brasil. Restringe-se, naturalmente, ao período republicano. No que diz respeito à legislação descobrimos que não estão disponíveis ‘todas’ as leis editadas. A primeira ofertada é a Lei 28, de 8 de janeiro de 1891 – revogada pela Lei 342, de 1895 –, que “estabelece as incompatibilidades entre os cargos federaes e estadoaes” e a mais imediata a Lei 44-B, de 2 de junho de 1892, que “Garante os direitos já adquiridos por empregados vitalícios e aposentados”.
No plano das curiosidades, a lei mais significativa na República Velha das disponíveis é o Código Civil, de 1916. Entre a primeira e o Código apenas 16 leis, das quais seis orçamentárias.
Interessante uma outra lei, a 25, de 14 de fevereiro de 1935, que “Autoriza o Poder Executivo a entrar em accôrdo com os herdeiros do ex-Imperador do Brasil, D. Pedro II, para acquisição da corôa imperial e dá outras providências”. No mesmo ano a Lei 38, de 4 de abril, que “Define os crimes contra a ordem política e social”, que vem a ser revogada, para nova redação, pela Lei 1.802, de 5 de janeiro de 1953, que acrescenta os “crimes contra o Estado”.
“Folhear” a relação ajuda a contar muito da História do Brasil. E muito dos avanços obtidos no curso das lutas políticas.
Casamento moderno
Não pode ser afirmado que a postura não possa ser alterada antes das definições. Mas o casamento entre PSB-PSDB não encontra unanimidade. Tanto que Marina Silva empareda o PSB em São Paulo, no sentido de que não venha a apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin.
A beleza da Democracia
Pinçamos na rede esta singular manifestação de opiniões diversas sobre um mesmo tema – Joaquim Barbosa: para um: “Pessoal o JB vai ser o nosso MANDELA BRASILEIRO, ESCUTEM SÓ. Resposta de outro: “Para começar vamos colocar o JB em cana por 27 anos.”
Dilma e a Copa
Particularmente não temos dúvida do que pode acontecer com Dilma – no plano da responsabilidade política – depois da Copa do Mundo. A preocupação gira em torno de uma das alternativas em relação à seleção brasileira: perder. Isso porque vencer dirá respeito ao valoroso escrete nacional (linguagem antiga, como certas ideias), a Neymar e quejandos liderados pelo ‘paisão’ Felipão. Nada a considerar além de que futebol nada deve à política eleitoral. Que o diga o escrete de 1950 que passou a noite anterior tirando fotos e gravando declarações com políticos em vez de descansar e relaxar para a final.
Ah! Mas se a tal ‘profecia’ do vidente Jucelino se concretizar e o Brasil não vencer a Copa e – pior – perder para a Argentina, que levantará a taça! Aí não tem jeito: culpa da Dilma e do PT.
Que de presidente da República será guindada a técnica da seleção brasileira!
Juvenal Maynart
Há muito deixamos de ler o publicado em determinados blogs locais. Não porque sejamos avesso à leituras, mas por chegarmos à elementar conclusão de que alguns – não dizemos ‘muitos’ para não generalizar – não escrevem; simplesmente reproduzem interesses. Em outras palavras: o que recebem limitam o que escrevem. Razão por que quando não recebem escrevem desancando quem não os “reconhece”. Quando não – bem mais grave – a serviço de terceiro(s).
Não servem à escrita, mas dela se servem. Não informam, panfletam. A charge de Bessinha bem traduz o espírito da ‘coisa’. Naturalmente multiplicada em relação ao local, que se pauta apenas no mesquinho.
O que ora escrevemos se apoia em conversa de um amigo sobre o lido em um desses espaços sobre o atual superintendente da CEPLAC, Juvenal Maynart. Há quem ande dizendo cobras e lagartos do rapaz como se fosse ele marionete, desprovido de competência e ideias. Vinculando-o a quem o indicou e não ao trabalho que tenha realizado ou deixado de realizar.
De uma coisa temos certeza: Maynart não paga para ser citado. Pode-se não gostar dele mas ninguém dirá que propôs para abrir espaços em favor da sua imagem, muito menos recebeu dele alguma proposta para tanto. Aí reside sua inconveniência.
Cremos – e não somos unanimidade, até porque o tempo confirmará ou não a crença – de que as propostas e ações de Juvenal Maynart à frente da CEPLAC podem muito bem fazê-lo de tamanha importância que o órgão, em relação ao ostracismo vivido em anos recentes, venha a ser considerado “antes” e “depois” dele. Ou, como rodapeamos quando assumiu – a.M / d.M.
O seu empenho em defesa da regulamentação da cabruca como instrumento de agricultura sustentável em relação à Mata Atlântica, já anunciada pelo Governo do Estado, não pode ser negado. O reconhecimento da cabruca será o reconhecimento da atuação de Maynart, ainda que a cabruca seja tão antiga como a própria presença do cacau na Bahia, a partir da segunda metade do século XIX. No entanto, de técnica primitiva (sempre defendida por muitos técnicos ceplaqueanos, mesmo em períodos em que o órgão mais estava a serviço da indústria de fertilizantes e defensivos) torna-se uma política de natureza ambiental, assegurando interação entre cacauicultor e Mata Atlântica, sob supervisão.
A MA – não esqueçamos – sempre foi o impecilho ao avanço do cacau nas últimas décadas (afastada aqui a crise oriunda a partir da vassoura-de-bruxa) e tornava quem cortasse um de seus indivíduos em criminoso, quando muitas vezes o fazia para sobreviver.
Por outro lado – em relação a Juvenal Maynart – desconhecemos qualquer referência à clássica postura de dirigentes em tempos áureos que realizavam o gosto da casa-grande regional perseguindo e anulando projetos de servidores que não rezassem na cartilha “oficial”. Nesse aspecto Maynart teve atitude de estadista, ainda que o leitor possa considerar exagerada a expressão. Mas, o que faz o estadista não é a adjetivação, mas suas atitudes.
Por fim, o que ora escreve o faz a partir do que observa – e pode até observar errado – mas nunca recebeu para “escrever”. Nem mesmo busca publicidade (caso chegue será bem acolhida) de quem quer que seja, privada ou oficial.
Pau de arara
A expressão sinonimizava o nordestino retirante, fugado para o Sul do país fugindo da seca e em busca de trabalho. Adquiriu caráter preconceituoso. No início dos anos 50, a partir de um fato concreto, Vinicius de Moraes letrou Pau de Arara para uma melodia de Carlos Lyra com arquitetura que bem traduz repente nordestino.
A geração atual dificilmente entenderá a dimensão da letra diante da realidade em que vive. Imaginará outra existência. Se não ficção.
Há uma versão singular (sem declamação) da excelente Zélia Barbosa no Youtube –http://www.youtube.com/watch?v=mQIb5nm8PQ0 – própria à ideia original. Preferimos, para o propósito deste rodapé (em razão da declamação), a de Ari Toledo. Ainda que a tragédia esteja sob o signo do humor, com sotaque e tudo.
DE RODAPÉS E DE ACHADOS está também disponível emwww.adylsonmachado.blogspot.com
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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum
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