terça-feira, 14 de março de 2023

MODELO SUL-BAIANO DRIBLA RACISMO E ASSÉDIO PARA SE FIRMAR NA CARREIRA


Guthierre Souza revela como abriu caminho no difícil mercado da moda
Tempo de leitura: 5 minutos

Thiago Dias

O imaginário popular coleciona representações críticas ao mundo da moda, apesar de tê-lo como referência das manifestações do belo. Novelas, filmes e outros gêneros ficcionais costumam retratar as perversões desse mercado, a exemplo das práticas de assédio sexual. Há exagero caricatural nessas representações, mas não estão descoladas da realidade, segundo relato do modelo Guthierre Souza, de 30 anos, ao PIMENTA. Além das propostas indecorosas ofertadas como atalhos da carreira, o profissional falou ao site sobre a experiência de ser homem negro e nordestino num universo dominado, há até pouco tempo, por jovens brancos do centro-sul brasileiro.

Nascido em Ilhéus, no sul da Bahia, Guthierre deixou a cidade aos seis anos, com a família, para morar em Aurelino Leal, onde viveu até 2014. Naquele ano, decidiu iniciar a carreira de modelo em Salvador, na agência One Models, assessorado por Caio Coroa, jornalista falecido precocemente, em 2017, aos 29 anos. Trabalhar na capital baiana foi importante para o início da carreira do jovem modelo, mas suas aspirações o levaram da Boa Terra. “Decidi ir para São Paulo, em 2017, para expandir meu olhar”, conta.

Guthierre e Anitta nos bastidores do clipe de “Blecaute”

Foi um amigo mais experiente na profissão, Kadu Marques, quem recomendou a HDA Models a Guthierre. Encravada em Pinheiros, bairro nobre da capital paulista, a agência fundada no ano 2000 é considerada a primeira do país especializada em modelos negros. Seu fundador é o também baiano Helder Dias, de Alagoinhas.

Ali, Guthierre fez diversos cursos para se capacitar. “Aulas de postura, passarela, etiqueta, teatro, história da moda, fotografia, maquiagem, vídeo, higiene da pele, etiqueta corporativa e sustentabilidade”, enumera. Após a formação, obteve o registro profissional. “O tão sonhado DRT”.

A primeira fase da carreira do ilheense em São Paulo foi a de um operário da moda. “Comecei com figuração, pra pegar o jeito, saber como funcionava tudo por trás das câmeras, a direção de arte, o olhar do diretor”, relembra.  Nessa época, Guthierre figurou em novelas de grandes emissoras, como Globo e SBT.

O figurante é um componente vivo da cena. Sua presença é essencial, mas não pode ser notada em relevo. Guthierre trabalhou mais de dois anos assim, em segundo plano nas telas, mas ganhando o suficiente para se manter no centro econômico do Brasil. “Quando decidi procurar um fotógrafo de moda, deixei de fazer figuração e comecei a fazer mais coadjuvante ou principal”, diz. Os resultados pintaram logo. Foi nessa época que participou do clipe de Blecaute, música da banda Jota Quest em parceria com a cantora Anitta e o guitarrista nova-iorquino Nile Rodgers.

Logo vieram as campanhas de grandes marcas, como Natura, Motorola e Fusion, o energético da todo-poderosa Ambev. Pela Avon, fez o lançamento global do perfume Segno. Carreira consolidada, Guthierre olha para trás e ressalta a importância do apoio de amigos que fez no caminho. Um deles é o ator, apresentador e repórter Francisco David dos Santos, David Brazil. Famoso pela irreverência, David é amicíssimo de Anitta e passou o contato da assessoria de Guthierre à produção de Blecaute. Segundo o baiano, o amigo praticamente o colocou dentro do clipe.

CORES E VALORES

Guthierre: mercado se abriu para negros, mas ainda falta muito para o ideal

Questionado sobre a presença de negros nas campanhas publicitárias, Guthierre Souza avalia que a abertura do mercado se intensificou recentemente. “Há cinco anos, o mercado era muito menos representativo. Havia mais restrição das agências e dos contratantes aos modelos negros, de pele escura. Mudou muita coisa, mas ainda falta muito”.

O modelo descreve uma lógica de segmentação que reproduz a racialização como elemento estruturante das relações sociais. Por exemplo, segundo ele, enquanto uma marca de cosméticos tende a privilegiar tons de pele mais claros, considerados mais abrangentes e representativos, mesmo entre modelos pretos, marcas como a Nike abrem caminho para negros de pele retinta. Num passado recente, conta Guthierre, um diastema (espaço entre os dentes) proeminente era o bastante para ser vetado em uma campanha. Não por coincidência, esse tipo de disposição da arcada dentária é mais comum nos negros.

A diversidade do povo brasileiro e a falta de integração e mobilidade em um país continental contribuem para que os diferentes sotaques regionais soem exóticos, como se o modo de falar do baiano o transformasse num estrangeiro em São Paulo, por exemplo, e vice-versa. Quantas vezes não nos pegamos zombando do jeito como as pessoas do interior paulista pronunciam a letra R?

No caso da experiência de Guthierre na Torre de Babel cantada por Mano Brown, o sotaque também foi motivo de brincadeiras preconceituosas. “Isso [xenofobia regional] veio muito com o preconceito a partir do sotaque, de imitar a forma como falo. Aquela brincadeira de “ô, meu rei”, de dizer que baiano é preguiçoso, gosta de rede, água de coco e só quer ficar de boa”.

Incomodado com a recorrência das brincadeiras, Guthierre chegou à conclusão de que mudaria sua postura nas interações profissionais.  “Através do meu comportamento, deixei de permitir que isso acontecesse, fechando mais as brechas, sendo mais profissional e direto no trabalho”.

Ele admite que, para se moldar ao mercado, de alguma forma, teve que se distanciar das próprias origens. “Você muda a forma de se vestir, de usar acessórios, de se comportar com seu corpo, de falar, tudo isso, você acaba tirando um pouco da sua essência, porque você tem que se enquadrar na forma que o mercado quer te ver em São Paulo”.

Guthierre no lançamento global da fragrância Segno, da Avon

Com quase dez anos de carreira, Guthierre diz que as adaptações não significaram abrir mão de valores morais. Assegura que, nesse caminho, preferiu evitar os atalhos. “Já recebi muitas propostas de novelas e filmes, propostas indecentes, que iriam corromper meus princípios e que eu disse não. Se fosse para aceitar e corromper meus princípios, estaria num nível muito elevado [na profissão]”.

Você pode esclarecer a que tipo de proposta se refere? “Proposta de ficar com diretores, ficar com diretores de cena, com clientes, com dono de agências, para conseguir cachê X, cachê Y, na frequência X, na frequência Y, acelerar o processo, pegar atalhos. Se você não quer percorrer caminhos, você vai pegar esses atalhos aqui, que você vai chegar mais rápido onde você quer”.

Filho do professor de música Linaldo Pereira e da professora e psicóloga Aldeci Souza, Guthierre lembra que, nos primeiros anos em São Paulo, a dedicação intensa à carreira tornava difícil visitar a família. Seguindo conselho de dona Maria Brandão, sua avó, investiu boa parte da grana que fez nos estúdios em outras atividades. Depois que comprou uma fazenda no sul da Bahia, onde cria gado e cultiva cacau de alta qualidade, conseguiu estabelecer agenda de trabalho flexível, o que lhe permite voltar às origens sempre que deseja.

Zeca Dirceu, líder do PT, diz que o governo Lula deve dividir o poder com Arthur Lira


segunda-feira, 13 de março de 2023

Corrida para o STF afunila em três nomes e Zanin segue como favorito

 

ROMARIA BOM JESUS DA LAPA


 

FICC reúne representantes dos segmentos culturais em 2ª escuta sobre Lei Paulo Gustavo


A Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC) vai realizar a 2ª Escuta Pública sobre  a Lei Paulo Gustavo (LPG) –  Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022 -, com diversos segmentos da classe artística cultural.  A escuta vai acontecer a partir das 17h desta terça-feira, dia 14, na Biblioteca Plínio de Almeida, no Espaço Cultural Josué Brandão, onde se localiza a Câmara Municipal de Vereadores.

O encontrou visa, além de universalizar e democratizar informações sobre a LPG, construir estratégias e definir critérios para aplicação dos recursos que serão repassados ao município pelo Governo Federal. A Lei foi aprovada pelo Congresso Nacional, e prevê o repasse total de R$ 3,862 bilhões a estados, municípios e ao Distrito Federal para aplicação em ações emergenciais que visem combater e mitigar os efeitos econômicos e sociais da pandemia da Covid-19 sobre o setor cultural.

Os recursos oriundos do Fundo Nacional da Cultura (FNC), responsável pela promoção cultural do país, serão repassados aos entes federativos, através do Sistema Nacional de Cultura. O aporte de R$ 2,79 bilhões será destinado às produções audiovisuais, salas de cinema, cineclubes, mostras e festivais.  Já os R$ 1,06 bilhão vão para ações emergenciais voltadas para os demais segmentos da cultura por meio de editais, chamadas públicas e premiações.

A 1º fase da escuta aconteceu na terça-feira passada, dia 7, quando o presidente da FICC, Aldo Rebouças, afirmou que a 1ª Oitiva Pública foi um grande passo em direção à regulamentação da Lei. “Existe uma estimativa de que o nosso município seja contemplado com recursos de aproximadamente R$ 1,8 milhão. Para que sejam corretamente aplicados, como preconiza a LPG, é extremamente necessário ampliar o acesso à informação para os agentes de todos os segmentos culturais”, pontuou Aldo.

As novas escutas seguem nos dias 16, sobre Cultura Popular, das 17 às 19h  na Escola Professor Adeum Hilário Sauer, na  Rua C, 1.738, no Vila Anália.  No dia 20, ocorrerá o Setorial de música  de 17 às 19h,  enquanto no  dia 21,  Setorial Cultura  Afro também das  17 às 19h, no mesmo local.

 

JORNAL DAS PRAIAS VIVA 72 ANOS DE IBICARAÍ

https://drive.google.com/file/d/1VS3UHbudMASOvoTt8TItsCdeDwXUmo-S/view?usp=drive_link