Emitindo moeda, os críticos apontam dois riscos: volta da inflação e fuga dos investimentos externos. Falar em volta da inflação, no nível atual de recessão e desemprego, é bobagem. Vamos centrar a análise no presumível risco de fuga de recursos externos.
Aprendi algo em meus anos de jornalismo econômico. Para avaliar se determinada teoria é válida ou não, entenda a lógica que a sustenta; e compare com os efeitos na economia real.
Por exemplo, o sistema de metas inflacionárias prevê um aumento das taxas de juros a cada aumento da expectativa de inflação. Qual a lógica por trás disso? Aumentando os juros, encarece o custo do dinheiro reduzindo a demanda por crédito ao consumidor e no financiamento de capital de giro.
Olhando o mundo real, constatava-se que um ponto ano a mais na taxa Selic, sequer fazia cócegas no custo do crédito ao consumidor – na faixa de 3% ao mês (!) -, e tinha efeito insignificante no custo final dos produtos. Logo, o mundo real não convalidava a teoria. O único efeito era provocar uma demanda maior de dólares especulativos atrás das taxas de juros, reduzindo o preço dos produtos comercializáveis (exportáveis e importados), prejudicando as exportações e o saldo comercial brasileiro. Essa teoria é a maior responsável pela industrialização da economia brasileira nas últimas décadas, ao baratear artificialmente os produtos importados.
Quando nos debruçamos sobre a emissão de moedas, a análise de causalidade é a mesma: não há nada que convalide os receios levantados.
Um dos perigos apontados é o de aumentar a inflação. Com a economia em quase processo de depressão, essa hipótese não existe.
O segundo perigo seria o da fuga de dólares do país. Por quê? Vamos entender as correlações.
Para o investimento externo, sair da recessão é ponto central. Não se discute. Como também não se discute que os gastos públicos são essenciais para essa retomada.
Há duas maneiras de conseguir recursos, no meio dessa crise: emitindo dívida pública ou emitindo moeda.
Emitindo títulos públicos, os efeitos são os seguintes:
Aumento da dívida pública, criando insegurança em relação à sua sustentabilidade.
- Em função da relação dívida/PIB, pouco espaço para arrecadar recursos.
- Desvia recursos do setor privado para o setor público.
- Compromete mais ainda orçamentos futuros para pagar o serviço da dívida gerada agora.
- O aumento da vulnerabilidade espantaria o investimento externo, assim como a permanência de uma economia estagnada.
Emitindo moeda, os críticos apontam dois riscos: volta da inflação e fuga dos investimentos externos. Falar em volta da inflação, no nível atual de recessão e desemprego, é bobagem. Vamos centrar a análise no presumível risco de fuga de recursos externos.
Hoje em dia, a falta de liquidez (de dinheiro) derrubou preços das ações e dos títulos públicos e também de ativos reais – empresas e imóveis. O primeiro grupo, pela necessidade das instituições fazerem caixa para honrar os pedidos de resgate. O segundo grupo, pela quebradeira generalizada que está ocorrendo na economia.
Há três tipos de investimento externo: aqueles voltados para a atividade real (aumento da produção), os que se dirigem à especulação, em juros e ações, e os que vêm adquirir empresas quebradas na bacia das almas.
Vamos nos fixar nos investimentos especulativos.
Com a emissão de moeda, haverá possibilidade de injetar mais liquidez no mercado, reduzindo as vendas de ações e títulos públicos – e, com isso, contendo a sua queda. Reduzindo o prejuízo dos investimentos, haverá uma queda na volatilidade – e na fuga de capitais. Fonte:https://jornalggn.com.br/